Parte de nada

Eu não faço parte de nada

No mundo, aqui e à toa, perdida

Não faço parte de nada

De repente me vejo excluída de tudo:

Eu não faço parte de nada

Sou importante, suas palavras me dizem isso

Mas eu não faço parte de nada

Sou importante, seu coração dá a entender isso

Mas eu não faço parte de nada

Muitas coisas fico sabendo depois

Vendo fotos

Lendo comentários

Sabendo por terceiros

E não importa a intensidade dos fatos:

Eu não faço parte de nada

A minha importância tem limites

Porque eu não faço parte de nada

A minha importância sempre teve limites

Porque nuca fiz parte de nada

A minha importância sempre terá limites

Porque nunca farei parte de nada

Sou apenas um adereço na prateleira 

Que gera afeição quando convém. 

Um dia

 Um dia alguém vai se lembrar de mim…

Por algum motivo bom

Por algum conselho

Por algum riso

Por alguma palavra que lhe foi útil

Por algum carinho

Vai lembrar… 

da minha generosidade, mesmo que limitada

Do dia que levantei do chão quando caiu

Do dia que acolhi nos braços quando alguém partiu

Do dia em que o amei de verdade

Vai lembrar…

Das palavras duras e ríspidas que acabei falando no momento de raiva e tristeza

Do catálogo de hostilidades pós mágoa 

Do ato de ignorar devido ao ressentimento e do perdão nunca solicitado

Vai lembrar de tudo isso de mim

Mas não vai lembrar do que proferiu contra mim

Das ofensas implícitas ditas

Das ofensas implícitas camufladas

Da falta de cuidado 

Da falta de atenção quando eu mais precisei 

Das conversas atravessadas pra levantar algum troféu conquistado

Afinal, minhas conquistas quais foram?

Destruidora de Sonhos

Quando eu sou oposição, eu sou a destruidora de sonhos

Estou sempre do lado de lá 

Enquanto imponho minha convicção, eu sou a destruidora de sonhos

Estou sempre do lado de lá 

Quando não declaro a minha intuição, eu estou minando os meus sonhos

Mas estou sempre do lado de lá 

Estar ao seu lado sem parecer estar é o que reflete o seu estado de ser

Estar ao seu lado parecendo estar reflete o meu jeito de ser

É preciso sempre estar de acordo para estar em paz?

As mais belas canções - e razões não tão belas.

Se não houvesse beleza na tristeza, o que seriam das mais belas e tristes canções?
Se não houvesse a razão na paz, de onde viria a paz nas razões?
De onde fazemos existir sentido onde nunca houve?
De onde fazemos haver ruído no silêncio de uma multidão?
Se queremos amar, por que endurecemos nossos corações?
Se queremos viver, por que escurecemos nossas visões?
No escuro não podemos discernir o certo do errado
Por mais que haja clareza, jamais poderemos dar certeza quando a palavra é alheia
Sejamos sensatos e daremos voz ao que é, de fato, nossa
Sejamos gratos para merecer o que nos vem de bom grado
Mas não aceitemos qualquer coisa que venha de alguma mão que possa estar suja
Suja dentro da mais limpa, cômoda e certa razão 
Razão essa que não advém do coração 
Porque o que não advém do coração não se faz são, é só mero detalhe de uma emoção 
Que pode ser simples e cantada, sem qualquer beleza, num verso falso de uma mais triste e bela canção. 

A sorte

Quando os dias estão cinzentos, sem previsão de sol e sequer uma luz no fim do túnel 

Eu só desejo a sorte de uma boa morte.

Quando a justiça, lenta e falha, se volta contra mim

Eu só quero a sorte de uma boa morte. 

Quando amanheço com os ossos doloridos sem um aparente porquê 

E o desânimo na alma me tira a vontade e a gana de viver 

Eu só penso na sorte de uma boa morte. 

Quando vejo o mal triunfando o bem, tripudiando o bem, zombando o bem

Bem, eu só foco na sorte de uma boa morte.

Quando vejo justos e bons indo embora, morrendo de modo, aos meus olhos e coração, injustificável -reflito: cairia bem a sorte de uma boa morte.

Quando nessa vida ou nesse mundo, putrificado e sem jeito, as coisas não caminham do modo que desejo

Só imagino o quão bom seria a sorte de uma boa morte.

Estranha no ninho

O lugar que era meu não pertence mais a mim
O lugar onde estou nunca pertenceu
No ninho, uma estranha no ninho 
Estranha em qualquer lugar que seja
Não me encontro, não me vou, não me dou
Simplesmente sou
Uma estranha no ninho
Um pássaro perdido eternamente em busca de proteção 
De atenção, de aprovação, de aceitação 
Um pássaro que se perdeu, pequenino e frágil 
Buscando redenção 
No aconchego do ninho
Que nunca foi seu

Jack Johnson em São Paulo - Espaço Unimed 17 de janeiro de 2023

Estive na apresentação de Jack Johnson a convite do site www.noset.com.br

Jack Johnson retornou aos palcos brasileiros na última quarta-feira, 17 de janeiro de 2023, no Espaço Unimed - São Paulo/SP para um espetáculo da turnê mundial “Meet the Moonlight Tour”. "Meet the Moonlight" é oitavo álbum de estúdio do músico, lançado em junho de 2022.  

A plateia estava ansiosa à espera do ídolo desde novembro de 2022, quando ele anunciou que faria três shows no país: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. 

Antes de Johnson, o cantor Rogê subiu ao palco e fez uma apresentação minimalista, mas talentosa. Experiente, tocou suas canções com uma banda competente. É um som que costuma agradar mais aqueles que curtem uma boa música brasileira mesclada no MPB e Samba.  

                                                                     Rogê/Foto:Espaço Unimed

Quando Jack Johnson subiu ao palco, o público foi à loucura. Emplacou uma sequência onde os fãs entoaram "Mudfootball", "Taylor", "One Step Ahead", "Flake/In the Summertime (cover)" e "Sitting, Waiting, Wishing".  

Johnson adora tocar no Brasil, gosta como o público daqui interage ao vivo. E curte tanto nosso país e cultura que foi muito interessante observar o dueto com Rogê fazendo a dobradinha com "Sunset For Somebody Else" e "Big Sur", ambas em suas versões brasileiras com direito à muita percussão (destaque para a cuíca), dando um toque especial no meio da apresentação. A mescla nas letras ficou restrita ao inglês para os fãs, que música a música mostravam saber praticamente todas de cor. Lembrando que essas duas canções foram regravadas com voz e instrumentos do brasileiro, lançadas pela dupla em outubro de 2022 e estão disponíveis em todas as plataformas de streamings.  

                                                                 Rogê&JackJohnson/Imagem: Rogê

Animado, simpático e talentoso, tanto na voz quanto nos instrumentos, Johnson conduz fácil a apresentação, recheada de covers e medleys, seguindo todo o tempo em ritmo frequente e sem pausas que não sejam para um duplo "obrigado, obrigado". Quando há uma música a qual a galera descansa por não conhecê-la, Jack emenda um hit e arranca gritos novamente. Simples e genial, mantendo seu show sempre em alto astral. 

Em "I Got You" acontece um dos momentos mais bonitos da apresentação: todos assobiam, muito legal de se ver e ouvir! 

                                                                Jack Johnson/Foto: Espaço Unimed

A banda é completada pelo baterista Adam Torpol, pelo baixista Merlo Podlewski e o pianista Zach Gill. Há uma sintonia muito forte entre Jack e os músicos, que também têm destaque durante a apresentação, principalmente quando Zach toca acordeon e leva o público ao delírio. 

A apresentação é finalizada com "Good People" e todos cantando o refrão juntos, já preparados para o tão aguardado Bis, que tem voz e violão em "Times Like These", "Do you Remember", "Angel e Better Together". Ao todo, foram 24 músicas. Para aqueles que não ou pouco conheciam Jack Johnson foi um show animado e uma agradável surpresa. Para os fãs, um showzaço. 

Jack, Zach, Adam e Merlo/ Foto: Espaço Unimed

Por Carolina Montes